domingo, 5 de maio de 2013

O esconderijo...

Hoje o título que vos trago é esconderijo, não que tenha escondido algo material, mas escondo algo sentimental. Passemos à dura explicação.
Sempre fui um ás em esconder o que sentia, ao ponto de uma amiga minha me dizer que nunca se conseguiria perceber o meu estado de alma, caso não me conhecesse muito, mas muito bem. Talvez porque a vida tem sido dura comigo que arranjei esta arma para me proteger, para não mostrar fraqueza. Mas por vezes a acumulação de sentimentos negativos é de tal ordem que acabo por ser fria com quem não gostaria de o ser.
Nesta altura do ano sinto que estou vulnerável, há coisas com as quais não se consegue lidar, e por mais anos que passem a dor é a mesma, o vazio é o mesmo...A única coisa que muda é a certeza de que ela nunca mais vai voltar...Que nunca mais vamos fazer maluqueiras todas juntas, que nunca mais vamos discutir...Quis contar-lhe que tinha entrado para a faculdade pegando no telemóvel para lhe ligar...Foi então que me apercebi, 4 meses depois que ela não me atenderia nem naquele dia, nem nunca mais. Desatei a chorar como nunca tinha chorado, aquela dor acumulada saiu, apetecia-me gritar com toda a força, mas pura e simplesmente não tinha voz. Fui ter com ela. As lágrimas caíram-me até não haver mais nenhuma para cair. Até áquele dia eu meti na cabeça que ela ia voltar, e só naquele dia a realidade me esmagou como se eu fosse um insecto. 
Ontem mesmo andava eu nas minhas lides e pensei: deixa-me aqui ligar o rádio. Pois foi que liguei, e em praticamente todas as estações por onde passei falava da queima das fitas, aqui, ali e acolá e eu pensei: ok estão a fazer-me tortura chinesa, e eu não estou a gostar. Desliguei o rádio. 
Hoje chego ao facebook e dou de caras com a notícia do rapaz que morreu na queima das fitas no Porto, e foi aí que aquele dia infernal voltou à minha memória, massacrando-me durante todo o dia. aquela dor e aquele sofrimento que senti naquele dia vieram à tona como se tivesse sido ontem, e ficou ainda pior depois de ver gente trajada na vila. Tentei distrair-me, mas sozinha é difícil apagar aquilo tudo em instantes. O querido disse-me para ir jantar com ele, e pensei então que seria bom sair de casa e ir lé distrair-me um pouco, E aí vou eu...
Pouco tempo depois de estar lá, começaram as notícias...Noticiaram novamente o rapaz. E eu cá nos meus interstícios resolvi desligar-me e não ouvir parte da notícia, porque não queria mesmo deixar sair aquela dor. Mas foi então que a mãe do querido diz: "Não fosse para lá!" Um comentário inocente para muitos, mas que para mim doeu e muito! As pessoas vão para se divertir, por vezes abusam é certo, mas só se é finalista uma vez na vida! É uma etapa que termina e outra nova que começa. Para aquele rapaz apenas terminou...tal como para a minha irmã, por motivos diferentes, mas em épocas idênticas. Olhei de relance a televisão...Todos trajados e felizes. Porque será que só a mim aquele traje me traz angústia? Nunca fui capaz de o vestir, pedi mesmo às minha colegas que não o vestissem ao pé de mim, explicando o porquê. Foram bastante compreensivas e nunca o fizeram após ter contado tudo.
Sempre que olho para aquele traje lembro-me da minha irmã...Sem vida naquela marquesa fria de hospital. 
Voltando ao "Não fosse para lá" a partir daquele momento não consegui mais segurar-me e sabia que à mínima coisa iria explodir para todo lado. Foi então que chegou o querido...Contou-me umas coisas que me deixaram um bocadinho irritada. Teria passado se não estivesse neste estado...Não fui propriamente simpática nas respostas, e recebi em trocas respostas ainda piores...Fiquei ainda menos contente... Fui para dentro para não dizer nada que me fizesse arrepender ...Pouco depois chama-me e diz-me que amanhã iria a um funeral de uma senhora não sei das quantas. Fiquei possuída e respondi-lhe com 7 pedras na mão que comigo à missa ao cemitério já não ia, ao que ele responde, que a namorada do primo também tinha ido para a queima para coimbra sozinha e ele não ficou chateado como eu estava. Pois, uma comparação mal feita e o "dedo enfiado na ferida", tudo na mesma frase. Virei-lhe as costas e nada disse...Apenas respondi que não estava chateada. E não fiquei, nem estou! Apenas fiquei triste...
Veio-me perguntar-me porque estava assim arrogante com ele, e a minha resposta foi o silêncio...Não consegui dizer-lhe o que sentia, sou cobarde por isso, eu sei, mas nunca fui boa a expressar sentimentos verbalmente. Geralmente demonstro-os, ou passo-os para o papel...

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